Friday, December 28, 2007

Na Itália: o turismo rengo

Depois da choradeira e das dores da corrida era chegada a hora de descansar e passear. No mínimo, porém, seria mais uma tarefa árdua e agoniante. Explico.

Imaginem que minhas pernas ficaram duras e meus joelhos não funcionavam propriamente, que estava com os tornozelos inflamados e cansava ficar em pé. Ok, agora imagem um dia normal de um mochileiro. Caminhar horrores, subir e descer escadas, pegar metrô, comer em qualquer birosca, acordar cedo e etc. para poder ver uns prédios velhos.

Como tudo na vida, também existe um lado bom e um lado ruim em ser um andarilho solitário. Tive sorte em encontrar muita gente legal pelo caminho, como uns brasileiros parceiraços, uma africana com furor uterino, um casal de espanhóis e umas australianas mega barangas (mas tri queridas, como diria o Binho). Mas já decidi: na próxima viagem arrasto um(a) amigo(a) comigo.

Uma vez que não tenho uma câmera (mais porque não tenho saco e nunca me lembraria de ficar fotografando), nada de fotos. Fica na memória do véio. Além de Milão, onde consegui ver Milan X Celtic pela Champions League, conheci Veneza, Florença e Verona. Um tour meio básico pela Itália, mas bem legal. Quem sabe em um futuro próximo eu não me embrenho mais pela Velha Bota?

Na Itália: a maratona

Depois de um bom tempo planejando a maratona e a viagem, lá fui eu para Milão. Foram 5 meses treinando em condições muitas vezes longe das ideais que teriam que se pagar no dia da prova.

Faço agora um parêntese filosófico. Tenho tentado barrar essa faceta de "comportado e politicamente correto que planeja tudo na vida", o que trocando em miúdos seria dizer que no final me sinto uma pessoa previsível. Disso até dormir de meia social bege é um pulo, então estou adotando uma postura mais agressiva para voltar a ser selvagem como vim ao mundo. Minha memória de brasileiro me impede de aprofundar essa reflexão e de achar a origem disso, mas tenho feito avanços impressionantes.

Hummmm, do que eu falava mesmo? Sim, da Itália. Pois é, cheguei, me instalei e corri. Sendo bem econômico nas palavras, a impressão que fiquei de lá é de um Brasil piorado. Uma zona, um monte de paraíba malandro e o grosso da população - com algumas exceções - desconhece o inglês e o dialeto italiano usado nas novelas da Globo.

Durante a feira no check-in da maratona, enquanto passeava pelos stands e comprava algumas porcarias, pensei que poderia ser uma boa hora de ignorar os planos e fazer o que me desse na telha. Resolvi correr sem relógio, sem gel de carboidrato e sem casaco. Foda-se tudo! :)

De todas as escolhas erradas que uma pessoa pode fazer em uma maratona eu provavelmente consegui abraçar todas as mesmo tempo. Abandonar a estratégia de corrida na véspera não foi algo muito esperto, mas pouco importa. Também pouco importa que meu joelho esquerdo começou a doer no km 18 e foi um martírio até o final ou que não fechei nas 3h 30min que eu tinha imaginado. A chutada de balde compensou muito.

Foram 4h 4min, ainda abaixo do tempo do ano anterior em Buenos Aires apesar do joelho. Ignorei os italianos xingando os corredores durante o percurso (por sermos "responsáveis" pelas ruas bloqueadas e pelo trânsito parado) ou a sensação térmica perto de zero. Curti, como nunca. Para quem quiser dar um conferes há uns filmes bem legais no site da maratona. No menu à direita estão os pontos da prova e os respectivos vídeos. Ao clicar em cada um, também tem uma dica do momento em que eu apareço. Procurem por um negrinho de barba e regata branca com detalhes azuis (herança dos tempos de DCS). Se também virem um par de pernas dando sopa me avisem, que estou fazendo negócio.

Thursday, December 27, 2007

Festeguê de aniverságuio

Imagino que quem esteja lendo esse blog saiba que meu aniversário é em novembro e que completei 27 anos. Sim, 27. Putz, me senti na capa da gaita quando contei uma história do tempo que tinha 17. Agora é só descida.

Bueno, o fato é que as gurias aqui em Reykjavík resolveram fazer uma festa para o véio. Muito bom ganhar um bolo surpresa mesmo estando a alguns milhares de quilômetros de casa. Todos que escreveram ou ligaram também deixaram mais quentinho meu aniversário.

Claro, por fazer parte da turma da Miriam a data não iria passar despercebida. Muito pelo contrário, rolou um festeguê forte. Sem muitos comentários, porque todos sabem que o que acontece em Vegas fica em Vegas.

Algumas fotos foram liberadas pela diretoria para dar uma palhinha do que foi a correria.
A próxima do mesmo naipe vai rolar no final de janeiro, para comemorar a folia de Momo debaixo de neve. Promete.

Enfim, de volta.

Sim, eu sei que estava em falta. Muito tempo passou do último post até hoje, mas não se preocupem. Não me tornarei o Francisco, que usa a meia-dúzia de três ou quatro coisas que ele faz para se dizer ocupado.

Fui preguiçoso mesmo. Tive que arrumar minhas coisas para ir à Itália e de quebra resolvi largar fora do meu antigo apê. O islandês toscão era gente boa, mas não preciso morar com alguém que fuma dentro de casa ou que acredita que a água quente limpa tudo.

Enfim, de volta. Vou tentar dar uma repassada no que rolou nesse meio tempo.
Não esperem nada muito interessante. Os bacuris são os mesmos produzidos em festas populares no passado pelo Brasil e espero que não estejam lendo o blog.

Saturday, November 17, 2007

Mamma mia!

Quanto mais o tempo passa mais me habituo à vida islandesa, procurando curtir ao máximo meu tempo livre com os novos amigos. Sexta-feira, que naturalmente já é abençoada, cada vez mais ganha destaque no calendário por ser o dia do encontro com a máfia siciliana.

A bola não é das mais excitantes, até porque já tinha me retirado dos gramados e não vejo mais muita graça na coisa. Porém, o pessoal, a bagunça, a gritaria, o arreganho e principalmente a acolhida que todos os carcamanos demonstram são impressionantes.

Nas últimas vezes fui convidado para o pós jogo, quando alguns se reúnem em um apê para meter umas pizzas, jogar videogame, fumar algum entorpecente e tomar umas biras. Eu vou de cabeça nas pizzas e dou uma beliscada nas biras enquanto passo o resto e procuro mais ouvir o pessoal fumado conversando, o que tem melhorado o meu italiano consideravelmente. O bom é que sempre rola uma cantoria ou uma história interessante pra animar o final do esquema. Como todo bom papo de italiano, cada um dá um pitaco, mas ninguém sabe nada.

Nesse último o pessoal resolveu mudar um pouco o cardápio. Putz, pasta feita por italianos, muito massa (pu rum tum pá). Acho que era um macarrão à carbonara, torto de bom e seguindo um ritual das nonas. Até botei na mesa a questão épica capelletti X anolini, mas não foi dessa vez que foi solucionado o mistério. Quem sabe agora em Milão alguma Mamma resolve isso de uma vez por todas! Enfim, a aventura vale mesmo por poder ficar jogadão falando merda e metendo um rango com os parceiros. Estava sentindo falta já.

Saturday, November 10, 2007

Por que a Iceland não é tão gelada nem a Greenland tão verde assim

Extra! Extra! Rei nórdico aplica a maior pegadinha do Malandro de todos os tempos!

Deve ter sido essa a manchete na época da descoberta da Groenlândia. Erik the Red, rei norueguês e responsável pela suruba na época, tinha um quê muito forte de publicitário e levou ao pé da letra a filosofia do chalalá. Segundo as Sagas islandesas, ele acabou nomeando a ilha de Greenland, dizendo que as pessoas ficariam ansiosas para ir e colonizar se o lugar tivesse um nome bacana. Acho que acabou não rolando.

A idéia talvez tenha surgido pra amenizar a cagada que rolou aqui na Islândia. Enquanto o nome em Português pode parecer inocente e talvez insignificante, em islandês literalmente é "Terra do Gelo". Sei que primeiro veio um marinheiro sueco (ui!) e chamou de Snæland (Snowland) e depois um certo egocêntrico chamado Garðar que colocou o nome bonito dele no lugar. Quando se achava que nada podia piorar, veio um nego mais perdido ainda, aportou no lugar mais inóspito daqui, administrou mal os suprimentos que tinha e ainda pegou um inverno brabo. Muito mangola. Um amigo que veio para cá mês passado deixou uma pergunta que certamente também passou pela cabeça desse pessoal durante a época da colonização (por volta de 870 d. C.): "será que a dona Islândia quer que a gente volte?". Com os visitantes tendo isso em mente, o resultado certamente não podia ser outro: ficava de vez o nome de Ísland (Iceland/Terra do Gelo).

Claro que moro em um lugar bem frio, mas não é tão Gelolândia assim, mas só em função do Gulf Stream que deixa a ilha habitável. Em um post no futuro eu falo mais sobre isso.

Bom, depois desse momento Mundo de Beakman as lições que ficam são:
1) A Islândia não é tão congelada assim e tampouco a Groenlândia é verde.
2) Nunca acredite em propaganda ou em reis, especialmente aqueles que dizem que um lugar acima do paralelo 60°N é verde.
3) As traduções brasileiras viajam na maionese e são uma merda mesmo, com exceção das pérolas "Um Tira da Pesada" e "Debi & Lóide".













(quem é quem na foto?)

Monday, October 29, 2007

O frio

Só para constar. Mesmo faltando ainda 2 meses para o inverno, a merda já começou a feder.
Nesse final de semana as ruas ficaram congeladas e na madrugada chegou a fazer 6° negativos.
O véio mal agasalhado passou maus bocados e agora amargo uma gripe pesada. Bom pra aprender.

A parte boa veio no domingo, quando na madruga nevou. De verdade, como nos filmes.
Hoje pela manhã, apesar do frio e de estar totalmente detonado da noite mal dormida, a paisagem veio como recompensa.

Providenciarei fotos!

Sunday, October 28, 2007

Iceland Airwaves - dia 5

Ufa, último dia. Já estava morto e de saco cheio daquele bracelete cortando a circulação. Para a minha surpresa as minas me acordaram querendo ir para a Blue Lagoon. Nada de festa do Airwaves, só pelo prazer de ficar de molho na água quente.

Peguei o carro da Miriam e dirigi os 40 km até o lugar. Fora as três mil fotos que as minas tiraram, nada de anormal. Na hora de voltar para casa a surpresa. Eu, mangola, tinha mexido em alguma coisa no carro e deixei ligadas as luzes. Explico-me. Aqui na Islândia quase todos os carros já vêm com um dispositivo de acender os faróis quando o carro é ligado, em função dos mais de 6 meses de escuridão que premiam o pessoal aqui. Resumindo, liga o carro, acende os faróis automaticamente.

Bueno, voltando. Chego lá e está o nosso carungo com aquela luz meio triste. Certo que não ia pegar. Pra piorar era um carro com transmissão automática, ou seja, nada de botar na banguela e empurrar. Mas nada como estar acompanhado de duas mulheres interessantes. Passa uma turma de poloneses ogros bêbados, elas já engatam um papo e ganhamos uma carona.

Os caras vão trovando a torto e a direito, sempre aproveitando para tirar uma casquinha da mulhegada. Passam um chalalá e nos convidam para jantar. A essa altura eu já era irmão da Miriam, o que não deixa de ser verdade. Pra melhorar, ainda pagam a conta. Serviço compreto!

Claro que as aventuras aqui nunca acabam e quando menos se espera pinta outra coisa. Passamos no mercadinho para pegar um básico e acabo encontrando, como nas novelas do Carlos Lombardi, o pessoal da Box de Porto Alegre. Muito bom encontrar uma galera que, apesar de não ser íntima, é conhecida e gente boa. Vieram para ver o Airwaves e como eu, estavam na capa da gaita. Depois de um papo rápido e de trocar telefones, cheguei em casa decidido a não ignorar o último dia do festival.

Larguei meus mijados e me teletransportei para o olho do furacão. Sem o menor stress ou atrolho, saboreei umas biras e curti a finaleira enquanto já pensava em como escrever tudo o que rolou aqui para os poucos - mas fiéis - leitores das aventuras do Nêgo Ivo.

Iceland Airwaves - dia 4

Depois da brochada da noite anterior o sábado prometia. Ao meio-dia ia rolar uma festa na Blue Lagoon. Não tinha erro: festa, música e piscina. Madruguei e logo estava pronto para a bagunça. Falei com a Miriam ainda pela manhã e teria companhia. Depois começou aquela história de vai-não-vai e pra cortar a missa para uma versão mais econômica, acabamos não fondo.

Curtimos o dia, rolamos pela cidade atrás de outras atrações do Airwaves em livrarias e cafés e depois vim para casa dar uma retocada no soninho. Banho tomado, programa na mão, hora da batalha. Uma noite muito boa também, não só porque encontrei minha amiga Árny mas também porque vi talvez o melhor show do festivaldo: Chromeo, uma dupla canadense com um repertório beeeeem cheesy mas que acaba fazendo todo o mundo pular e dançar com a mão pra cima. As minas então, só no gritinho. A gurizada do Ri Ri Riot também me apeteceu e como diria o Antena, estavam em chamas e esmerilharam. Depois de quatro dias de Airwaves já me achava mais educado musicalmente, pelos papos com o pessoal desconhecido de NY e Berlim e até uns negos meio falidos do meio musical. Coisa de Sessão da Tarde. Estava tão à vontade que saí de chapéu e barbudo, metendo marra de baixista polêmico. Graças ao Bom que não me deixei levar e segurei a onda de desfilar só com o já tradicional bigode "Rema na Beirinha".

Antes com lata de mendigo do que com de empacotador de súper!

Iceland Airwaves - dia 3

Finalmente, sexta-feira! Expectativa de dia pegado de Airwaves, mas antes um bom compromisso: jogar bola com uns italianos amigos do trabalho da Miriam. Indescritível a sensação de voltar a jogar com pessoas que entendem o que é futebol. Muita gritaria e discussões, não tanto como o Matteo e a Giuliana faziam na novela, talvez mais com cara de Dona Armênia, aquela que era mãe do Gersinho Brenner. Enfim, parecia cena de novela com aquela italianada esbravejando muito "Cazzo" e nada de "Maledetto" como o Benedito Ruy Barbosa quis me fazer acreditar. Falando em telinha, tinha uma equipe de uma TV da Velha Bota fazendo um documentário sobre italianos morando fora do país. Mais um vez lá estava o negrinho perseguindo a fama, dessa vez no melhor estilo volante brigador com passada larga.

Bom, terminado o jogo e de alma lavada lá fui eu para o Airwaves. Soquei um rango e peguei meu livrinho. Infelizmente já tinha previsto problemas. Por ser sexta-feira teria que disputar lugar com um bando de islandeses, e para quem não sabe do que falo, não há nada pior que uma horda de nativos em um evento. Islandeses e álcool são uma mistura perigosa, mas só para os outros que foram doutrinados com essas baboseiras de boas maneiras e civilidade básica.

Voltando à vaca fria, segue o programa do dia. Muita coisa islandesa famosinha mas nada que desse um brilho. O que me chamou a atenção foram os ingleses da Computer Club que tocaram sem o baterista, já que o cara conseguiu ser preso em um aeroporto na Escócia quando vinha para cá. Prestigiei mais pela decência que tiveram com o público de dar a cara a tapa mesmo assim e também porque deixaram um magro da platéia subir e assumir o posto vazio.

Claro, depois disso a única saída foi ir para casa botar a carcaça pra descansar.

Iceland Airwaves - dia 2

Depois de um bom começo lá fui eu para o segundo dia. Queria começar cedo e assim que saí de casa com uma breja já abri a programação para achar algo que me fosse atraente. O que rolou no dia vocês podem ver aqui.

O fato de ser quinta-feira também deixava o centro em rebuliço, apesar de não precisar de muita frescura aqui pra juntar gente pra beber e fazer merda. Talvez tenha sido a melhor noite, não só porque encontrei minha amiga Árny :) por acidente mas também porque várias bandas fizeram a alegria com um som muito bala e apresentações ultra performáticas. Nada daquele papo é-um-prazer-imenso-estar-aqui dos calouros quando vão no Fama. Estava na cara que o Airwaves dá um teso e a grande maioria se puxou muito.

O que ficou de muito bom pra mim foram os magros das Ilhas Faroe do Boys in a Band (talvez com o visual mais alucinógeno do festival) e o duo Slow Club.

Dever cumprido, lá fui eu tirar o soninho do Justo Justíssimo.

Iceland Airwaves - dia 1

Está valendo, bola rolando para o Iceland Airwaves. Com a promessa de 5 dias de muita curtição e muita música maluca, lá fui eu solitariamente munido da minha pulseira. A idéia, como falei antes, era de ser surpreendido e não planejar coisa nenhuma. Paradoxalmente, o plano era não ter plano nenhum. Aqui vocês podem conferir tudo o que rolou no dia e dar um bico no Myspace do pessoal pra sentir a temperatura.

Muito legal andar a esmo, entrar em todos os lugares pra conferir o que estava rolando e ver o pessoal reunido pra curtir mil tipos de sons. Os que me apeteceram mais nessa noite foram o Grasrætur e Solid Gold.

Cadum, cadum. O que vocês mais curtiram?

Iceland Airwaves

De 17 a 21 de outubro rolou aqui o Iceland Airwaves, festival todo modernético de música. Não entendo nada de música, e imaginem, menos ainda sobre promessas e tendências para o cenário internacional. A idéia era realmente relaxar e curtir, bem à la louca e sem planejar. No feeling mesmo, deixando a vida me levar. Abria o programa, olhava o nome das várias bandas para aquele horário e (rufar de tambores) pronto, resolvida a coisa! Sim, levei muito gato por lebre, mas isso é parte de viver a vida loucamente.

Nos próximos posts vou falar o que vi e o que achei em cada um dos 5 dias do Airwaves. Não esperem uma crítica embasada e estruturada como o Dudu faz no blog dele. Meu estilo é mais Raul Gil. Gostei ou não gostei. E quem sabe a letra canta junto!

Friday, October 12, 2007

A dura vida de um futebolista na Islândia














Dia 13 de outubro rolou aqui uma partida pelas eliminatórias da Euro 08 e, claro, lá fui eu conferir a bagaça: Islândia X Letônia. Estádio nacional aberto para o grande evento, torcida animada, pipoqueiro, churrasquinho de baleia, ambulante e flanelinha. Acho que até um "Chocolate, limão e uva" eu escutei. Tudo para acompanhar o nosso esporte bretão que também é paixão nacional aqui no Pólo Norte. Vale frisar também que o time da casa já estava eliminado, mas isso talvez já se soubesse antes mesmo de iniciar o campeonato.

Lá fomos nós para o estádio (Luciano, seu irmão Igor e eu) com aquele sorriso no rosto, loucos de saudade de ver uma peleia no estilo Gauchão. O cenário, porém, tinha toques quase pitorescos. Apitos, caras-pintadas, torcidas misturadas, uma revista inexistente na entrada e até um pessoal entrando com caixa de pizza e frango com farofa eu vi. Ainda ficamos uns bons 20 minutos fazendo observações sobre como a coisa aqui ainda rema na beirinha: os 8 policiais que faziam a segurança do estádio, o telhado de zinco, a mureta mínima que separa a torcida do campo, as duas gandulas com 14 anos e o pequeno número de torcedores. Aliás, eu já vi mais gente ali no Ararigbóia quando a bala comia.

Não me perguntem do jogo porque quando eu não estava rindo eu estava gargalhando. "Putz" e "coitado" foram bastante usados nos comentários. Claro, o time é Gordjohnsen e mais 10. Ele, com um senhor sobrepeso, não fez muita diferença, mas ainda assim meteu dois golos. E vamos combinar que a Letônia não é ninguém, mas meteram 4. Isso, 4 X 2 para os visitantes. O resto do pessoal corria, corria e judiava da redonda. Coitadinha. Roubei algumas fotos da minha amiga Miriam pra poder mostrar algo a vocês enquanto não resolvo o esquema da minha câmera.

No final ficou aquela esperança de poder a qualquer momento largar meu emprego e disputar a liga islandesa. Iria de 3-5-2 com LG no gol, Andrey, Ramiro, Binho, Ramon e Jeronimo; Dudu Mascherano, Nêgo Ivo e Perdigão; Peruca e o abençoado Josmar "Bigode", o centroavante que deu origem à série. Técnico, claro, o Francisco. Alguma dúvida de que o caneco seria nosso?

Saturday, September 22, 2007

20 de setembro

Já tinha percebido - e até comentado aqui - que quando neguinho está fora do seu habitat acaba buscando uma identificação mais fácil com suas origens. Seja a brasileirada comendo feijoada e rebolando ao som de samba, seja a gauchada mateando e ouvindo um Engenheiros. Não? Ok, me passei, também não é pra tanto.

Aqui na Picolelândia não seria diferente. Felizmente tem um grupo muito legal de gaúchos aqui que organizaram uma bagunça flor de especial para esta data tão especial. O nível era tão alto que um jornal daqui faria uma matéria sobre os quitutes e sobre o festejo. Sim, ficando famoso!

Caprichei no visual e lá fui eu para a casa da Miriam (essa é guasca, lá de Livramento), de onde fomos para a casa do Luciano, local da festa. Chegamos lá e falo que não ficava devendo nada. O pessoal mandava muito bem na cozinha: carreteiro de ovelha, carreteiro de potro (é, cavalo sim senhor), negrinho, branquinho, Chico Balanceado e um mate pra índio véio nenhum botar defeito.

Comi até explodir o pandulho e depois rolou aquela digestã com muito papo, risadas e aqueles arrotinhos que tu assopra para cima pra disfarçar o azedume! Coisa de luxo. No detalhe: Luciano, Jaqueline, Miriam, Nêgo Ivo e participação especial de Erika.

A dura vida de um maratonista na Islândia

Quem reclama do frio é porque nunca veio para a Islândia. Eu imaginava que seria uma parada dura, mas agora sinto que o furo é mais fundo. Coisa pra Galo Cinza mesmo. Nem tinha terminado o verão ainda e já tinha rolado aqui em Reykjavík mesmo temperaturas negativas, tempestades e uma geada que deixava os gramados das casas congelados. Isso para não falar do interior, onde já rola direto chuva de granito (como diria uma empregada lá de casa que tinha menos dentes na boca do que anos de estudo) e nevascas que deixam as ruas cobertas com meio metro de neve. Clássico meio metrinho com ondulação vindo de leste, mas meio complicado de cair no pêlo.

Se eu fosse um cara arredio e curtisse ficar enfurnado em casa não teria problema - já que um aquecedor ligado e um banho bem quente de banheira têm o seu valor - porém, resolvi aqui me dedicar bastante à corrida, algo que me faz sempre muito bem não só para o corpo mas principalmente para a cabeça.

Aqui o cara tem que gostar mesmo da coisa. Chuva vindo de frente, vindo de baixo, rajadas de vento empurrando para fora da pista ou me fazendo correr praticamente sem sair do lugar e temperaturas perto de zero fazem parte da minha rotina diária. Isso que é comecinho de outono. Não tendo vento eu já jogo as mãos para o céu!

O fato é que, 2 de dezembro pretendo estar em Milão para correr a maratona e depois aproveitar para conhecer a cidade. Agora a história é outra: treino montado pelo Tiaguinho, tempo para correr, alimentação organizada pela minha ilustre irmã e até um ferrinho pra inchar os cambitos. O bom é que não importa como vai estar o tempo no dia da corrida, nada vai ser pior que aqui. Quem agüentou 4 meses treinando no Pólo Norte agüenta 3h e 30 min. em qualquer lugar. Agora falta pouco, a cabeça já entrou.

Forza Ivo!

Wednesday, September 19, 2007

Tenho medo de chegar nessa idade

Essa é uma frase que cresci ouvindo meu avô falar. Sempre que alguém fazia alguma merda no trânsito, lá ia o seu Walter disparando. E eu achava graça (afinal apesar de ter os seus 70 e tantos ele certamente é mais lúcido e cheio de energia que muita gente que conheço por aí) mas não podia deixar de dar razão. Não é que eu odeie gente velha, é só que de um tempo para cá tenho ficado cada vez mais impaciente com o pessoal que acompanhou no rádio a primeira bomba atômica ser lançada ou viu o Carlitos e o Rolo Compressor em ação. Acho que isso ilustra bem o que sinto.

Logo que cheguei aqui uma das primeiras coisas que fiz foi a minha carteirinha para freqüentar a piscina pública. É algo barato, que tem boa estrutura e como não tem muita coisa para se fazer na Islândia, ficar de molho na água quente e nadar vez que outra acabam sendo boas opções. Claro, não ia ser fácil. Cada vez que chego na piscina para nadar uma meia dúzia de oito ou nove velhos (que juntos somam uns mil anos) estão boiando pelas raias. Para piorar, o pessoal aqui não só é senil como é senil em islandês.

Ok, calma, tranqüilidade e elegância como o Tonho me ensinou. Respiro fundo e funciona. Procuro não me irritar muito, paro meu treino e espero. Às vezes até saio sem terminar. Realmente essa viagem para a Islândia está me mudando bastante. Dia desses quase joguei um pouco de capim para um velhinho que parecia um peixe-boi nadando. Careca, gordo e desdentado!

Sunday, September 9, 2007

Brazil zil zil

Semana passada foi 7 de setembro e acabou rolando uma integração da colônia brasileira aqui na Gelolândia. Foi um encontro muito bacana na casa de uma gaúcha que mora aqui faz um tempinho e que contou com uns 15 bonecos. Super animada, a festa teve de tudo que um brasileiro médio considera como um estandarte da pátria tupiniquim: feijoada, música, birita e mulheres dançando. Claro que eu aproveitei essa chance de saborear um feijãozinho e tirar um pouco o gosto de carneiro e curry e limpar organismo. Só faltou mesmo um negrinho no final para dar aquele toque especial. Reza a lenda que tinham umas latas de leite condensado dando sopa, mas acabou não rolando.

Não tinha como ir para a noite naquele estado e acabei optando ir para casa ler um pouco para baixar os 3 pratos bem servidos que boquei até ter condições para dormir. No outro dia, com um pouco de ressaca estomacal (quando tem um cavalo xucro pinoteando pelas tripas) fiquei divagando enquanto olhava a chuva cair pela janela, bem no estilo dos clipes do Roupa Nova. O Orkut tem sim o seu valor. Se não fosse por ele eu não teria conhecido um bocado de gente aqui, nem estaria falando com vários amigos do Brasil. Tá certo que antes de vir pra cá eu relutava em entrar (tinha que ser do contra, claro) e depois pensei em desertar umas mil vezes. Não vou ficar divagando aqui sobre o uso e qual o público dessas social networks, mas sim dizer que, fora para o meu trabalho, encontrei outro uso para o Orkut.

E sigo aqui, esperando agora o dia 20 pra fazer uma mateada e assar uma carne. Dessa vez sim não tem como faltar o negrinho - e de colher!

Futebol, ou qualquer que seja o nome disso aqui

Esse final de semana rolou aqui uma partida das eliminatórias para a Eurocopa do ano que vem: Islândia X Espanha. Chega a ser engraçado como o pessoal gosta e se dedica ao futebol. Seria tão mais fácil e menos embaraçoso se deixassem de lado e tentassem outra coisa. Ainda mais que acho que entre as mulheres é mais jogado e comentado. Futebol feminino não, né?! Tentem carteado, polícia e ladrão ou queimada, mas não se coloquem em uma situação assim. Chega a ser mais patético que em Goiânia, onde cada pessoa torce em média para 3 times (1 do estado de Goiás, 1 do RJ e 1 de SP). Ai, ai...futebol feminino. E na Islândia. Os campeonatos acontecem no verão (por causa do tempo "bom") e a liga masculina tem 10 times. Bueno, semana passada resolvi dar uma chance e fui jogar bola com uns bonecos do trabalho. Sim, em um país que acompanha futebol feminino e com o pessoal do suporte. Imaginem o que ia ser.

Eu imaginava um futebol de salão pelo que o pessoal me falava, mas chegando lá estava mais para uma quadra de squash com goleiras. Não deu outra. O jogo era bizarro, tipo uma mistura entre um gol-a-gol que dava na Xuxa e pelota basca. A bola não saía nas laterais e não existia goleiro. Naquele dia entendi bem o que significava a frase "não existe gol feio, feio é não fazer gol". Sim, foi cunhada aqui, só pode. Lembrava muito as peladas de guri quando a gente jogava bola no pátio do Don Luciano, tabelava com a parede e não deixava o Mauro chutar forte pra não encerrar prematuramente nosso sonho de ser pai e ter uma família.

Nem preciso dizer que uns 2 não sabiam o que estavam fazendo dentro da quadra, coitadinhos. O resto lembrava o Fred Flinstone, talvez representando o melhor estilo islandês de cuidar da redonda. Mesmo distante das quadras e dos gramados há um bom tempo, nada de esforço ou complicação. No final, valeu por ter me enturmado com mais alguns bonecos. O melhor, acho que vou empresariar o Ararigbóia ou Xurupita para o campeonato do ano que vem. Feio não vão fazer.

As vantagens de ser careca


Para quem já passou por isso sabe do que estou falando. Cortar o cabelo e passar instruções em outra língua é muito complicado. Se já é difícil em português para aquele açougueiro emparelhar a suíça (com cedilha mesmo, porque com "ss" só se eu quiser abrir um crepe em Capão mesmo) ou cortar decentemente o topete e não te deixar com pinta de líder de banda de pagode, imagina em inglês. Leiam o texto muito bom que o Ramon (vulga Gringa) escreveu no blog dele. E sim, ficou bom o carpete do véio. O problema é que cresce e daqui a pouco tem tudo de novo...

PS: Me esforcei bastante para não usar a piada infame "se fosse importante não nasceria no ..." e consegui! Obrigado e parabéns a todos os envolvidos.

Ela vem pela montanha, ela vem... (continuação)

No dia seguinte fui acordado pelo pessoal que se preparava para fazer um passeio pelo lugar e claro que não ia ficar de bobeira. Arrumei uns mijados e lá fomos nós. Nem preciso dizer que depois de 15 minutos de ritmo acelerado do nosso "guia" o nível de tabaco e de lipídios no corpo do pessoal da firma fazia a negada puxar o freio de mão. Continuamos em um ritmo mais user friendly e aí sim todos ficaram felizes. O visual e as sensações de aventura e perigo faziam valer a pena. Alguns ainda estavam meio borrados em razão da altura e da trilha nem sempre segura. Combinamos que o ponto final seria o almoço em um platô com vista para 2 das geleiras do lugar. Seria bacana e daria 5 horas no total. Um bom número considerando que metade da tropa estava para morrer no início da jornada.

Sandubas, fotos e aquela descansadinha para recuperar as forcas. Tudo pronto para a volta quando alguém pilha a negada para irmos adiante, com aquele blablabláque a gente nunca mais teria essa chance, que o tempo estava perfeito, etc. Pronto, fomos em frente. Para o alto e avante. Sempre tinham me falado mas não acreditava. Quando se comeca a escalar uma montanha o cume atrai.

Depois de subir e descer, fazer sol, chuva e muita chuva, neve, gelo, pedras e rios pelo caminho, era mais do que hora de voltar. Já havíamos estendido o passeio em umas 3h e agora realmente não era frescura. Alguns reclamavam de lesões, outros de cansaço e outros não falavam nada, mas dava pra ver no rosto que o fecaloma já comecava a escorrer pela perna. O problema é que pra voltar não dava para fazer o mesmo caminho da ida (claro, é só somar - seriam mais 8 horas de caminhada) e o jeito era pegar uma trilha alternativa. Chovia muito e em alguns pontos realmente dava um frio na barriga. Claro, uma merda poderia acontecer, mas quase que todos surtaram: não iam adiante porque seria muito perigoso, estavam cansados e machucados. A solução? Queriam um helicóptero para voltarem. Sim, verdade. Ok, parem de rir. Sério, parem.
Telefonamos para o resgate e mandaram 3 bonecos no estilo Braddock a pé. Eu não acreditava. Todos queriam receber um curativo ou algo assim. Os painkillers dos caras acabaram em dois toques. Pareciam pinto no lixo. Em 2 horas estávamos de volta ao acampamento, e achei que uma gozacao básica seria normal (e até aceitável), mas pelo jeito essas coisas aqui na Islandia são bem sérias. Vi essa semana até que 2 alemães estão desaparecidos em uma geleira há 10 dias. Esses foram pra banha, certamente. O pessoal da firma nos recebeu aliviados que nada mais grave tinha acontecido. A partir daí tudo foi alegria. Nem mesmo o banho gelado estragou a noite. Churrasquinho, trago e soninho. Pronto pra outra!

Panorâmica do lugar e descida da montanha. Para ver mais fotos, clique aqui e aqui. Beijos!

Thursday, August 2, 2007

Ela vem pela montanha, ela vem...

Depois da minha preparação aventurística meio café com leite, era chegada a hora. O acampamento da firma prometia. Primeiro, porque era a oportunidade de conhecer uma galera que passa o dia escondida atrás dos monitores 24'' Dell; segundo, porque todas as informações davam que o lugar era fantástico; e terceiro, mas não menos importante, porque eu queria ver se o pessoal do suporte seria capaz de organizar um programa legal. O melhor: era de grátis.

Passei a semana combinando os preparativos com o Nikola (meu parceiro Sérvio) e vi que toda a função do acampamento empolgava muito o boneco. Era um tal de comprar saco de dormir, colchão inflável, cadeira do papai, grelha, comida e o escambau que eu nem quis dar pitaco.

Chegada a tão esperada sexta-feira, o pessoal mais enganava do que trabalhava. Até quem não ia na viagem fez de conta. Pontualmente às 17h todos desceram de mala e cuia para esperar o ônibus. Eu que não sabia o tempo de viagem muito menos quando serviriam a janta tratei de me garantir com uns sandubas. Sorte minha. Com quase 1h e meia de atraso chega o tal bumba. Era a cruza da camionete do B.A. com um T2 véio. Tudo carregado, lá fomos nós para Þórsmörk. Alguns pit stops pelo caminho para juntar alguns perdidos, pra fazer xixi e comprar algumas porcarias e em 2h chegamos. De boas-vindas algumas imagens incríveis, dignas de comercial de Marlboro: cavalos selvagens, caubóis, montanhas e rios (pra quem quiser conferir é só clicar aqui. Mentira, aqui!). Bom, como todo acampamento teve aquelas coisas de montar barraca, cachorro-quente roots, cantorias e outras coisas mais que só o interior da Islandia pode oferecer. Caiu a noite e, já de pandulho cheio, o próximo passo era ficar bebado para tentar dormir na barraca que a essa altura já estava congelada.

Tuesday, July 31, 2007

Viagem ao Centro da Terra

Não que minha vida tenha ficado parada nesse bom tempo que fiquei afastado dos teclados, mas uma preguiça grande tomou conta do véio. Ou as histórias não davam pano pra manga ou eram impublicáveis em um blog família nesse horário.

Depois de um certo tempo aguardando minha primeira viagem pela Islândia, finalmente rolou um bonde do terror organizado pela Russa (sim, a mesma que cuidou dos meus esquemas da viagem). Daquelas pessoas que curtem um grupal, adora juntar gente pra se ajudar e se motivar. Mala. Não duvido que daqui alguns anos ela emplaque um sucesso literário em 14 idiomas, bem no estilo Lair Ribeiro ou algo da série "Quem esfarelou meu queijo?".

Então... o destino da viagem foi Snæfellsnes, uma península um pouco ao norte de Reykjavík que abriga um puta parque parque nacional, lar do vulcão Snæfellsjökull - para os íntimos, o vulcão do livro "Viagem ao Centro da Terra" de Julio Verne. Com certeza valia a indiada.
Lá me fui eu acordando cedo em pleno sábado e pegando uma van em frente à CCP. O guia, um tiozinho cruza do Carequinha com o Chacrinha, ficava contando histórias durante a viagem. Algumas interessantes, outras nem tanto, mas garantiu a animação do bumba. Ainda bem. Foram umas 2h de viagem com várias paradas e desvios ao longo do caminho para fotos. Até aí, ok. Os lugares eram sem dúvida lindos, mas as fotos mal tiradas! Já tínhamos chegado a um vilarejo minúsculo - que certamente não vou lembrar o nome - e ia rolar um piquenique de almoço. Bala! Mas alguma coisa começava a me irritar. Um magro adorava bater fotos dele próprio. Vladimir, um ucraniano com cara e cabeça de paraíba. Colocava no automático, corria, fazia uma pose e depois ia serelepe para ver como tinha ficado. No começo aceitei, afinal era uma viagem com o pessoal que no colégio sentava na frente e eram grandes as chances de que ele tivesse ficado sem oxigênio no cérebro quando criança. Tinha até um quê que me lembrava o Andrey, talvez pelo jeito performático e rebolativo das poses, mas depois da 50ª a graça tinha acabado. Quando chegamos a uma praia (bem próximo de onde o encouraçado alemão Bismarck afundou na 2ª Guerra), Vladimir, o Mangola resolveu recolher todas as estrelas-do-mar que ele pudesse carregar.

Tentei avisar que ele mataria a todas, mas mal consegui convencer que eram seres vivos. A pergunta seguinte foi "elas mordem?". Em vão, aquela batalha estava perdida. Talvez algum grupo checheno consiga fazer justiça, mas eu falhei. Na volta, porém, um consolo. Nas correrias para tirar fotos de si, ele cai à miguelão em um arbusto que escondia um córrego e enfia os coturnos no lamaçal. Sarcástico e meio Muttley, eu sei, mas o blog é família e não evangélico. O programa serviu como um aquecimento para o acampamento da semana seguinte, dessa vez com o pessoal da firma no meio de geleiras e montanhas. Coisa pra MacGyver!
(pra quem quiser, mais fotos)

Monday, July 16, 2007

O teso do blog

Faço uma pausa nas histórias do pólo norte para abrir um parêntese. Na verdade tem a ver, já que é mais um capítulo dessa aventura maluca, mas ok. O que observei durante a imensidão de tempo livre que tenho aqui (claro, se comparado com os últimos anos) é que me tornei um blogueiro de carteirinha. Sim, logo eu que maldizia o Francisco quando me mandava ler o blog dele para saber notícias de Londres agora não consigo ficar sem ler blogs sobre mil assuntos. E o pior, escrever também vicia. Não que eu tenha tantas coisas interessantes para contar, até porque estou me encaixando em rotinas e na próxima semana só vai mudar o sabor do iogurte do meu primeiro lanchinho da tarde ou o número de vezes que me repito o almoço, mas fui acometido de uma dessas endemias internéticas modernas: o teso do blog.

Para aqueles que desconhecem a origem da teoria do teso, ela nasceu no século XXI do pensamento do filósofo Edius Lauro. O que Laurinho (assim chamado na intimidade do círculo filosófico) define como teso é uma vontade muito forte e súbitao que vem para contrariar algo anteriormente afirmado. Prometeu que não ia fazer e fez, você teve um teso! Esse comportamento já foi observado em diversas atividades rotineiras, como jogar pôquer e se masturbar, mas costuma aparecer mais fortemente em sábados solitários em frente ao computador. Viu aquela baranga online, deu mole para um panga no Orkut, teso!

Isso tudo para dizer que a vida aqui é uma sucessão de tesos. Estou sempre me contradizendo, e uma das coisas que a Dercy Gonçalves me ensinou (não foi dando o exemplo, mas de alguma forma aprendi com ela) é que sempre que a gente muda é pra melhor. Não que eu vá começar a alugar o quartinho dos fundos porque vim morar na Europa, mas sim que esses tesos vão me mostrando coisas que talvez eu nunca tenha parado para pensar ou que não tenha dado a devida atenção.

Sei, mais um momento xabi. Uma hora paro com essas frescuras, mas enquanto isso sigo com os tesos.

Monday, July 9, 2007

Enfim, no Guinness

Depois de ter chegado às 7h da manhã em casa por causa da festa da noite anterior, sabia que não teria muito tempo para descansar no sábado. Minha hora tinha chegado. Nêgo, O Ivo entraria para a história. Das coisas que um homem precisa fazer antes de morrer, certamente estava diante da mais importante: escrever o meu nome do Guinness, o Livro dos Recordes. Plantar uma árvore - ok. Ter um filho - checar livro de registros em Feliz e em Sta. Cruz do Sul. Escrever um livro - humm, bom, essa caiu em descrédito bem no início da faculdade, onde provou-se que qualquer um pode publicar livros, criar personagens e escrever de trás pra diante impunemente. Então lá fui eu atrás da última fronteira. Telefono (com aquela voz do Pereio de quem recém acordou) para uma amiga para combinarmos a ida ao, quiçá, maior evento que essa ilha no meio do Atlântico já presenciou: a busca pelo recorde mundial de pessoas combatendo com pistolas d'água. Tipo guerrinha de bexiguinha, mas mil vezes mais profi a coisa. Claro, se é pra entrar pro Livro dos Recordes, que seja em alto estilo. Me visto da pior forma possível, colocando peça sobre peça até parecer um colhedor de laranjas e desço para esperar minha carona. Um detalhe interessante sobre Reykjavík é que, por mais minúscula que seja a cidade, as distâncias são grandes e sem carro realmente fica complicado fazer algo fora do centro. Bom, mas lá fomos nós.

Chegando perto do local já dava pra ver o alvoroço do pessoal. Certamente para proporções islandesas estava diante de uma multidão. Palco com shows, pipoca, parquinho de diversões, banquinha com comidas e tudo mais. Mas não podia perder o foco, estava ali em busca de algo maior. Entro na fila para pegar a minha pistola d'água e, para minha surpresa, começam a correr boatos de que há mais gente que arminhas. Nã, nã, nã! Tinha percorrido muita coisa até ali para atingir meu sonho e faria de tudo para colocar meu nome lá, lá mesmo, na História.

Não me fiz de rogado. Não furei a fila, pois isso poderia traumatizar a sociedade islandesa e desequilibrar o ecossistema. Fiz melhor. Criei uma nova fila e não muito tempo depois lá estava eu, cara a cara, pronto para pegar a minha arma. Peço minha camiseta... só tamanho P, não, espera. Ah, aparece a última M pro véio aqui que tá com um corpinho mirrado. Perfeito. Agradeço e peço minha arma. O cara olha em volta, não encontra nada. Não acreditei... já esperava pelo pior quando escutei:
- Here, take it. It's your lucky day.

Sim, meu dia de sorte. Entro no campo me sentindo William Wallace pronto para entrar na história junto com 2 mil islandeses. Os 30 minutos seguintes são de destruição e vandalismo intensos. Termino ali, cansado, molhado e com os meus dedos doloridos de tanto atirar, mas feliz e com o sentimento de dever cumprido: não morro anônimo. Enfim, no Guinness.

Sunday, July 8, 2007

A noite

Viva! Finalmente sexta-feira. Não por estar tão cansado de uma semana de trabalho, mas muito mais interessado em me enturmar e curioso para conhecer a noite em Reykjavík. Por todos os lugares em que passei durante meu mês de andarilho a galera falava que a noite mais pegada e maluca da Europa acontece aqui, e a hora de experimentar tinha chegado.
Dou uma dormidinha campeã, me arrumo e perto da 1h passam aqui em casa duas amigas (que sequer tinha conhecido ao vivo ainda) e lá vamos nós. De carro pelas ruas já dava pra sentir o espírito. Um misto de Armageddon e Galo da Madrugada dominava o pessoal. Tinha na cabeça que seria como estar no backstage de um filme, mas naqueles de censura adulta. O começo não poderia ter sido melhor. Pra minha surpresa, o primeiro lugar que minhas novas amigas me levaram foi o Strawberry, um rendez-vouz no centro onde trabalha um amigo delas. Sim, um puteiro. Pode chamar de casa de massagem, naite club, sauna e o escambau, mas ali eu vi que puteiro é puteiro em qualquer lugar. Não que eu seja um cara experimentado nessa seara, mas é aquela coisa: caras pagando drinks para as gurias, segurando na mão, fazendo juras de amor para ganhar algum descontinho e coisa e tal. E o pessoal da casa desfilando com roupas ínfimas, daquelas que a frente mais parece os fundilhos, mas nada que eu já não tenha visto no carnaval do Ibiza. Ficamos um tempo ali, conhecendo o pessoal do Clube da Patifaria e vendo uns showzinhos. Tomei umas biras por conta da casa e rumamos para os clubs. Como na maioria da Europa, não se paga para entrar, mas se o porteiro com o nariz quebrado não for com a tua cara, não entra. Visitamos uma meia dúzia de 6 ou 7 bares, sempre em procissão, um mais maluco que o outro, um com gente mais maluca que o outro. Pra terem idéia do naipe, até o Gudjohnsen eu encontrei, talvez bebendo pra esquecer que é a maior enganação do futebol europeu depois que o Casagrande sacaneou o Torino. Bueno, voltando à vaca fria, sempre música muito bala, mulheres lindas dançando e se rebolando, atacando os caras e tal. Bem Sabadão Sertanejo mesmo.
Ah, mas uma noite islandesa não está completa sem um certa dose de agressividade. Os hoolingans devem ter nascido aqui, porque tudo é destruído na noite. Copos quebrados (na rua e dentro dos clubs), negada caída e semi inconsciente (na rua e nos clubs), pancadaria rolando (na rua e nos clubs). Pior é que é desse jeito mesmo: o esquema é curtir como se não existisse um amanhã. E assim se vai vivendo. A cada final de semana em Reykjavík um Carnaval. Pra dentro deles, Denilson!

Thursday, July 5, 2007

O serviço

Bom, vamos ao que interessa. Afinal, o parceiro veio pra cá pra trabalhar mesmo e não pra congelar os ovos. Como a maioria de vocês deve saber, trabalho em uma empresa de games online de estratégia. Para alguns pode soar meio maçante, mas definitivamente não é. É como se eu trabalhasse dentro de um episódio do Fantástico Mundo de Bob (pra quem não lembra, aquele desenho do guri cabeçudinho que passava no programa da Eliana ou no da Mara Maravilha). As pessoas escrevem nas paredes, jogam videogame e jogos de computador (por trabalho e por diversão), brincam de caçar com arminhas de brinquedo, correm pelo escritório e mais um monte de barbaridades. Até a comida que servem na cantina é divertida: tacos, doritos com nachos, espetinhos... sem falar no sorvete e na bira que rola na noite. Calma. Sim, os negos trabalham, e pelo jeito tá dando muito certo, já que a empresa vem crescendo em um ritmo meio maluco. Falando em maluco, um cara do suporte cria um papagaio dentro da sala. Deixei o cara na dele. Primeiro, ele era do suporte. Depois, pior era o Michael Jackson que criava uma gurizada a Toddynho, daqueles bem encorpados.
Mas voltando, é tudo muito legal. Ainda tenho que me acostumar com a rotina, com o chefe e com a empresa, mas isso vem com o tal do tempo, tô sussa. Melhor que isso, só no S.O.S. Malibu vendo a Pamela Anderson naquele maiô vermelho do Borat.

Wednesday, July 4, 2007

Primeiras Impressões

Bueno, como eu estava dizendo, cheguei por volta de 1h da manhã e tinha gente para me buscar no aeroporto. O trajeto do aeroporto até a cidade levou pouco mais de meia hora e ali tudo era bizarro. Não sei se pelas correrias de aeroporto, desfazer e montar mala de Londres e Paris ou se pelo choque de ser tudo completamente diferente aqui. Já na cidade, meio mangola ainda, deitei e tentei dar uma dormida. Não foi aquele soninho recuperador da beleza, mas deu pro gasto. O tempo inteiro, claro, o sol bombando. Pra dar uma idéia fiz esse videozinho dentro do avião: http://www.youtube.com/watch?v=qKS1kiDVD08 . Sexta-feira já conheço o apê que vou ficar e meu roommate. Bacana, mas meio sujo. Sim, o apartamento. O cara até que não era de se jogar fora. Thor, um carpinteiro que estuda economia. Até aquele dia pra mim Thor era nome de cachorro, não pela mesma convenção que imortalizou nomes como Totó e Piti, mas mais por culpa do Francisco. Gente boa, mas certamente com alguma relação de parentensco com o Sloth dos Goonies. O Thor, não o Francisco. Instalado, vou dar aquela volta pela cidade. Um final de semana caminhando pelos guetos e me acho sem mapa, prendendo e mandando soltar já. Achei até um clubinho roots de strip que pode vir a ser útil. Bom, poderia escrever várias histórias inusitadas que já presenciei e vivi aqui, como a da tia que tinha uma prótese de quadril que caiu justo quando ela entrou no banheiro para ir aos pés ou de quando fiquei chaveado fora de casa por 3h sem camisa, de bermuda e com 1 chinelo só, mas sei lá. Também não rola colocar aqui todos os dias o que eu comi ou fiz de bom do meu dia. Vou escrevendo. Uma hora eu encho o saco, e vocês também.

Em casa, finalmente

Deixei Porto Alegre no dia 30 de maio e finalmente, depois de 29 dias pela Zorópia, cheguei ao meu destino: Reykjavík. Foi um tempo bom, que me fez pensar bastante na vida e outras baitolagens, mas que principalmente vi como tem gente bala disposta a ajudar. Nas andanças por Barcelona, Paris, Marseille e Londres conheci e reencontrei gente que me ajudou muito. E por mais vacinado que se possa ser, sempre é bom contar com essa mão.
Passado esse momento sentimental (mas que realmente não poderia deixar de ser colocado), it's showtime. Hora de falar das histórias que contei mais ou menos para alguns. Como esse é um blog que aborda minha vida e experiência na Islândia, tudo começa a partir do dia 29 de junho, quando desembarco no aeroporto internacional de Keflavík, na Islândia. Ah, importante frisar que sempre que citar pessoas que conviveram comigo ou artistas de cinema, significa que estou com saudade e não que estou de chacota.