Saturday, September 22, 2007

20 de setembro

Já tinha percebido - e até comentado aqui - que quando neguinho está fora do seu habitat acaba buscando uma identificação mais fácil com suas origens. Seja a brasileirada comendo feijoada e rebolando ao som de samba, seja a gauchada mateando e ouvindo um Engenheiros. Não? Ok, me passei, também não é pra tanto.

Aqui na Picolelândia não seria diferente. Felizmente tem um grupo muito legal de gaúchos aqui que organizaram uma bagunça flor de especial para esta data tão especial. O nível era tão alto que um jornal daqui faria uma matéria sobre os quitutes e sobre o festejo. Sim, ficando famoso!

Caprichei no visual e lá fui eu para a casa da Miriam (essa é guasca, lá de Livramento), de onde fomos para a casa do Luciano, local da festa. Chegamos lá e falo que não ficava devendo nada. O pessoal mandava muito bem na cozinha: carreteiro de ovelha, carreteiro de potro (é, cavalo sim senhor), negrinho, branquinho, Chico Balanceado e um mate pra índio véio nenhum botar defeito.

Comi até explodir o pandulho e depois rolou aquela digestã com muito papo, risadas e aqueles arrotinhos que tu assopra para cima pra disfarçar o azedume! Coisa de luxo. No detalhe: Luciano, Jaqueline, Miriam, Nêgo Ivo e participação especial de Erika.

A dura vida de um maratonista na Islândia

Quem reclama do frio é porque nunca veio para a Islândia. Eu imaginava que seria uma parada dura, mas agora sinto que o furo é mais fundo. Coisa pra Galo Cinza mesmo. Nem tinha terminado o verão ainda e já tinha rolado aqui em Reykjavík mesmo temperaturas negativas, tempestades e uma geada que deixava os gramados das casas congelados. Isso para não falar do interior, onde já rola direto chuva de granito (como diria uma empregada lá de casa que tinha menos dentes na boca do que anos de estudo) e nevascas que deixam as ruas cobertas com meio metro de neve. Clássico meio metrinho com ondulação vindo de leste, mas meio complicado de cair no pêlo.

Se eu fosse um cara arredio e curtisse ficar enfurnado em casa não teria problema - já que um aquecedor ligado e um banho bem quente de banheira têm o seu valor - porém, resolvi aqui me dedicar bastante à corrida, algo que me faz sempre muito bem não só para o corpo mas principalmente para a cabeça.

Aqui o cara tem que gostar mesmo da coisa. Chuva vindo de frente, vindo de baixo, rajadas de vento empurrando para fora da pista ou me fazendo correr praticamente sem sair do lugar e temperaturas perto de zero fazem parte da minha rotina diária. Isso que é comecinho de outono. Não tendo vento eu já jogo as mãos para o céu!

O fato é que, 2 de dezembro pretendo estar em Milão para correr a maratona e depois aproveitar para conhecer a cidade. Agora a história é outra: treino montado pelo Tiaguinho, tempo para correr, alimentação organizada pela minha ilustre irmã e até um ferrinho pra inchar os cambitos. O bom é que não importa como vai estar o tempo no dia da corrida, nada vai ser pior que aqui. Quem agüentou 4 meses treinando no Pólo Norte agüenta 3h e 30 min. em qualquer lugar. Agora falta pouco, a cabeça já entrou.

Forza Ivo!

Wednesday, September 19, 2007

Tenho medo de chegar nessa idade

Essa é uma frase que cresci ouvindo meu avô falar. Sempre que alguém fazia alguma merda no trânsito, lá ia o seu Walter disparando. E eu achava graça (afinal apesar de ter os seus 70 e tantos ele certamente é mais lúcido e cheio de energia que muita gente que conheço por aí) mas não podia deixar de dar razão. Não é que eu odeie gente velha, é só que de um tempo para cá tenho ficado cada vez mais impaciente com o pessoal que acompanhou no rádio a primeira bomba atômica ser lançada ou viu o Carlitos e o Rolo Compressor em ação. Acho que isso ilustra bem o que sinto.

Logo que cheguei aqui uma das primeiras coisas que fiz foi a minha carteirinha para freqüentar a piscina pública. É algo barato, que tem boa estrutura e como não tem muita coisa para se fazer na Islândia, ficar de molho na água quente e nadar vez que outra acabam sendo boas opções. Claro, não ia ser fácil. Cada vez que chego na piscina para nadar uma meia dúzia de oito ou nove velhos (que juntos somam uns mil anos) estão boiando pelas raias. Para piorar, o pessoal aqui não só é senil como é senil em islandês.

Ok, calma, tranqüilidade e elegância como o Tonho me ensinou. Respiro fundo e funciona. Procuro não me irritar muito, paro meu treino e espero. Às vezes até saio sem terminar. Realmente essa viagem para a Islândia está me mudando bastante. Dia desses quase joguei um pouco de capim para um velhinho que parecia um peixe-boi nadando. Careca, gordo e desdentado!

Sunday, September 9, 2007

Brazil zil zil

Semana passada foi 7 de setembro e acabou rolando uma integração da colônia brasileira aqui na Gelolândia. Foi um encontro muito bacana na casa de uma gaúcha que mora aqui faz um tempinho e que contou com uns 15 bonecos. Super animada, a festa teve de tudo que um brasileiro médio considera como um estandarte da pátria tupiniquim: feijoada, música, birita e mulheres dançando. Claro que eu aproveitei essa chance de saborear um feijãozinho e tirar um pouco o gosto de carneiro e curry e limpar organismo. Só faltou mesmo um negrinho no final para dar aquele toque especial. Reza a lenda que tinham umas latas de leite condensado dando sopa, mas acabou não rolando.

Não tinha como ir para a noite naquele estado e acabei optando ir para casa ler um pouco para baixar os 3 pratos bem servidos que boquei até ter condições para dormir. No outro dia, com um pouco de ressaca estomacal (quando tem um cavalo xucro pinoteando pelas tripas) fiquei divagando enquanto olhava a chuva cair pela janela, bem no estilo dos clipes do Roupa Nova. O Orkut tem sim o seu valor. Se não fosse por ele eu não teria conhecido um bocado de gente aqui, nem estaria falando com vários amigos do Brasil. Tá certo que antes de vir pra cá eu relutava em entrar (tinha que ser do contra, claro) e depois pensei em desertar umas mil vezes. Não vou ficar divagando aqui sobre o uso e qual o público dessas social networks, mas sim dizer que, fora para o meu trabalho, encontrei outro uso para o Orkut.

E sigo aqui, esperando agora o dia 20 pra fazer uma mateada e assar uma carne. Dessa vez sim não tem como faltar o negrinho - e de colher!

Futebol, ou qualquer que seja o nome disso aqui

Esse final de semana rolou aqui uma partida das eliminatórias para a Eurocopa do ano que vem: Islândia X Espanha. Chega a ser engraçado como o pessoal gosta e se dedica ao futebol. Seria tão mais fácil e menos embaraçoso se deixassem de lado e tentassem outra coisa. Ainda mais que acho que entre as mulheres é mais jogado e comentado. Futebol feminino não, né?! Tentem carteado, polícia e ladrão ou queimada, mas não se coloquem em uma situação assim. Chega a ser mais patético que em Goiânia, onde cada pessoa torce em média para 3 times (1 do estado de Goiás, 1 do RJ e 1 de SP). Ai, ai...futebol feminino. E na Islândia. Os campeonatos acontecem no verão (por causa do tempo "bom") e a liga masculina tem 10 times. Bueno, semana passada resolvi dar uma chance e fui jogar bola com uns bonecos do trabalho. Sim, em um país que acompanha futebol feminino e com o pessoal do suporte. Imaginem o que ia ser.

Eu imaginava um futebol de salão pelo que o pessoal me falava, mas chegando lá estava mais para uma quadra de squash com goleiras. Não deu outra. O jogo era bizarro, tipo uma mistura entre um gol-a-gol que dava na Xuxa e pelota basca. A bola não saía nas laterais e não existia goleiro. Naquele dia entendi bem o que significava a frase "não existe gol feio, feio é não fazer gol". Sim, foi cunhada aqui, só pode. Lembrava muito as peladas de guri quando a gente jogava bola no pátio do Don Luciano, tabelava com a parede e não deixava o Mauro chutar forte pra não encerrar prematuramente nosso sonho de ser pai e ter uma família.

Nem preciso dizer que uns 2 não sabiam o que estavam fazendo dentro da quadra, coitadinhos. O resto lembrava o Fred Flinstone, talvez representando o melhor estilo islandês de cuidar da redonda. Mesmo distante das quadras e dos gramados há um bom tempo, nada de esforço ou complicação. No final, valeu por ter me enturmado com mais alguns bonecos. O melhor, acho que vou empresariar o Ararigbóia ou Xurupita para o campeonato do ano que vem. Feio não vão fazer.

As vantagens de ser careca


Para quem já passou por isso sabe do que estou falando. Cortar o cabelo e passar instruções em outra língua é muito complicado. Se já é difícil em português para aquele açougueiro emparelhar a suíça (com cedilha mesmo, porque com "ss" só se eu quiser abrir um crepe em Capão mesmo) ou cortar decentemente o topete e não te deixar com pinta de líder de banda de pagode, imagina em inglês. Leiam o texto muito bom que o Ramon (vulga Gringa) escreveu no blog dele. E sim, ficou bom o carpete do véio. O problema é que cresce e daqui a pouco tem tudo de novo...

PS: Me esforcei bastante para não usar a piada infame "se fosse importante não nasceria no ..." e consegui! Obrigado e parabéns a todos os envolvidos.

Ela vem pela montanha, ela vem... (continuação)

No dia seguinte fui acordado pelo pessoal que se preparava para fazer um passeio pelo lugar e claro que não ia ficar de bobeira. Arrumei uns mijados e lá fomos nós. Nem preciso dizer que depois de 15 minutos de ritmo acelerado do nosso "guia" o nível de tabaco e de lipídios no corpo do pessoal da firma fazia a negada puxar o freio de mão. Continuamos em um ritmo mais user friendly e aí sim todos ficaram felizes. O visual e as sensações de aventura e perigo faziam valer a pena. Alguns ainda estavam meio borrados em razão da altura e da trilha nem sempre segura. Combinamos que o ponto final seria o almoço em um platô com vista para 2 das geleiras do lugar. Seria bacana e daria 5 horas no total. Um bom número considerando que metade da tropa estava para morrer no início da jornada.

Sandubas, fotos e aquela descansadinha para recuperar as forcas. Tudo pronto para a volta quando alguém pilha a negada para irmos adiante, com aquele blablabláque a gente nunca mais teria essa chance, que o tempo estava perfeito, etc. Pronto, fomos em frente. Para o alto e avante. Sempre tinham me falado mas não acreditava. Quando se comeca a escalar uma montanha o cume atrai.

Depois de subir e descer, fazer sol, chuva e muita chuva, neve, gelo, pedras e rios pelo caminho, era mais do que hora de voltar. Já havíamos estendido o passeio em umas 3h e agora realmente não era frescura. Alguns reclamavam de lesões, outros de cansaço e outros não falavam nada, mas dava pra ver no rosto que o fecaloma já comecava a escorrer pela perna. O problema é que pra voltar não dava para fazer o mesmo caminho da ida (claro, é só somar - seriam mais 8 horas de caminhada) e o jeito era pegar uma trilha alternativa. Chovia muito e em alguns pontos realmente dava um frio na barriga. Claro, uma merda poderia acontecer, mas quase que todos surtaram: não iam adiante porque seria muito perigoso, estavam cansados e machucados. A solução? Queriam um helicóptero para voltarem. Sim, verdade. Ok, parem de rir. Sério, parem.
Telefonamos para o resgate e mandaram 3 bonecos no estilo Braddock a pé. Eu não acreditava. Todos queriam receber um curativo ou algo assim. Os painkillers dos caras acabaram em dois toques. Pareciam pinto no lixo. Em 2 horas estávamos de volta ao acampamento, e achei que uma gozacao básica seria normal (e até aceitável), mas pelo jeito essas coisas aqui na Islandia são bem sérias. Vi essa semana até que 2 alemães estão desaparecidos em uma geleira há 10 dias. Esses foram pra banha, certamente. O pessoal da firma nos recebeu aliviados que nada mais grave tinha acontecido. A partir daí tudo foi alegria. Nem mesmo o banho gelado estragou a noite. Churrasquinho, trago e soninho. Pronto pra outra!

Panorâmica do lugar e descida da montanha. Para ver mais fotos, clique aqui e aqui. Beijos!